quinta-feira, outubro 23, 2008

Dois poemas




Mulher Negra.


Mulher nua, mulher negra,
Vestida de tua cor que é vida,
de tua forma que é beleza!
Cresci à tua sombra;
a doçura de tuas mãos acariciou os meus olhos.
E eis que, no auge do verão,
em pleno Sul, eu te descubro,
Terra prometida,
do cimo de alto desfiladeiro calcinado,
E tua beleza me atinge em pleno coração,
como o golpe certeiro de uma águia.
Fêmea nua, fêmea escura,
Fruto sazonado de carne vigorosa,
êxtase escuro de vinho negro,
boca que faz lírica a minha boca
savana de horizontes puros,
savana que freme com as carícias ardentes do vento Leste.
Tam-tam escultural,
tenso tambor que murmura sob os dedos do vencedor.
Tua voz grave de contralto é o canto espiritual da Amada.
Fêmea nua, fêmea negra,
Lençol de óleo que nenhum sopro enruga,
óleo calmo nos flancos do atleta,
nos flancos dos príncipes do Mali.
Gazela de adornos celestes,
as pérolas são estrelas sobre a noite da tua pele.
Delícia do espírito,
as cintilações de ouro sobre tua pele
que ondula à sombra de tua cabeleira.
Dissipa-se minha angústia,
ante o sol dos teus olhos.
Mulher nua, fêmea negra,
Eu te canto a beleza passageira
para fixá-la eternamente,
antes que o zelo do destino
te reduza a cinzas para alimentar as raízes da vida.


Poema de Léopold Sédar Senghor: 1906 - 2001
Tradução de Guilherme de Souza Castro - Falecido professor da UFBa, foi diretor do CEAO e professor em Ifé (Nigéria).
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Mulher Negra




I
Do tempo das amas-de-leite,
das senzalas e mucambas,
Aind’há quem te desfeite,
(Do tempo das amas-de-leite)
quem deboche teus enfeites,
e te faça a vida tirana
Do tempo das amas-de-leitedas senzalas e mucambas.

II
Ser mulher e, negra, também ser,
é sentir, em dobro, a dor,
é lutar e sobreviver.
Ser mulher e, negra, também ser,
é por duas sempre valer,
é desdobrar o seu valor
Ser mulher e, negra, também ser,
é sentir, em dobro, a dor.

III
É guardar dentro do peito,
o grito da liberdade,
qual o mais doce confeito.
É guardar dentro do peito,
a esperança dum mundo feitode paz e igualdade
É guardar dentro do peito,o grito da liberdade.

IV
É ser sempre a guerreira,
vencendo obstáculos,
e tomando a dianteira.
É ser sempre a guerreira,
e vencer, à sua maneira,
desta vida os percalços
É ser sempre a guerreira,
vencendo obstáculos,
V
Mulher negra, negra mulher,
fica aqui esta homenagem,
de um poetinha qualquer.
Mulher negra, negra mulher,
venha o tempo que vier,
és sinônimo de coragem.
Mulher negra, negra mulher,
fica aqui esta homenagem.

Jorge Linhaça



Aproxima-se o dia 20 de novembro, instituído o dia da consciência negra. E como não falar de consciência sem lembrar da mulher.
Mulher que é toda sensibilidade. Que ensina a seus rebentos a consciência da vida.
A mulher que é guerreira,sem deixar de ser feminina.
A mulher que é desteminda, sem deixar de querer também ser amparada.
Mulher que é, dizem contraditória, mas é nas contradições que está sua beleza. A verdadeira mágica de ser mulher.

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